Joana
tinha acabado de fazer treze anos, era muito infantil e ainda gostava de
brincar com o seu boneco “Nenuco”, mas tinha que o fazer às escondidas porque o
seu irmão, Jorge de 18 anos, gozava com ela.
Os pais eram, como ela
dizia, porreiros mas andavam sempre a discutir.
Hoje,
entrou na cozinha e com o ar mais natural deste mundo gritou:
-
Pessoal acho que estou grávida!
A
mãe abriu a boca de espanto e ficou muda com um olhar esgazeado. O pai não se
conteve e encontrou logo ali o bode expiatório, a mulher:
-
A culpa é toda tua, se a tens educado como se educa uma rapariga nada disto
teria acontecido, mas não, vocês mulheres são todas a mesma coisa.
A
mulher olhou-o de través e, chispando, como um toiro enraivecido atirou:
-
Mas quem és tu para falar, inútil que nunca se importou nada com os filhos, que
nunca os acompanhou. Carregas tudo para cima de mim. És um zero que sempre tens
descartado os problemas e pões o cu de fora quando os há para resolver.
O
filho mais velho olhava os “coroas” sem perceber aonde queria chegar com esta
discussão. Se a Joana estava grávida havia que saber quem era o gajo e dar-lhe
um enxerto de porrada e o assunto ficava resolvido. Mas não, os cotas discutiam
sem saber resolver um assunto tão simples.
A
Joana, coitada, estava meia confundida com o impacto que a sua exclamação tinha
provocado. Mas afinal o que é que ela tinha feito assim de tão mal?
- Oh
mãe porque é toda essa zaragata?
A
mãe olhou-a, quase irada, e com um embargo na voz soltou:
- Joana não sabes o que dizes se calhar nem te apercebes que podes ter estragado a tua e até a nossa vida!
A rapariga olhava a
mãe, o pai e o irmão sem perceber onde estava o drama. O que tinha acontecido
de tão grave para todos a olharem desta forma tão colérica. Desatou a chorar
num pranto tão sentido que a mãe não resistiu e correu a abraçar a filha.
-
Querida, grávida na tua idade! Isso nunca nos passou pela cabeça. Mas afinal
quem é o culpado dessa desgraça?
Joana
olhou a mãe cada vez muito confusa.
-
Culpado? Acho que foi o feijão!
O
pai esbugalhou os olhos.
O
irmão esfregou a cabeça num gesto de quem não está a perceber nada do que se
está a passar e gritou;
-
Quem é esse feijão que eu parto-o todo.
O pai
mais comedido:
-
Vamos resolver isto de uma forma civilizada.
A
mãe, olhos brilhando de lágrimas:
-
Querida quem é esse feijão?
Joana
com os soluços a embargarem a voz exclamou.
-
Mãe... foi o teu feijão. Comi o feijão guisado que deixaste para o almoço e,
não sei porque, comecei a ficar com a barriga inchada. Doía e fui ver à
Internet o que fazer para me tratar. Procurei e dizia lá que barriga inchada
podia ser sinal de gravidez.
Desatou
num choro convulsivo, soluços que metiam dó:
-
Pensei que o feijão me tinha deixado grávida. Eu não sabia que isso era mau.
Desculpem!
Abril 2021
Manuel Penteado
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