O Bairro Alto é um dos bairros históricos de Lisboa e esta situado vizinho ao Chiado, este último é considerado um bairro aristocrático e o Alto foi um bairro operário que D. Manoel I mandou construir para residência dos trabalhadores ligados a sua corte, como os profissionais dos estaleiros navais, arte, entre outros. A exemplo dos douradores valorizadíssimos na época, eles faziam talhas douradas com a cobertura em ouro.
Este bairro foi o primeiro de
Lisboa submetido ao planejamento urbanístico e bem mais adiante muitos jovens
começaram a viver na região, assim caracterizou como um o bairro de coração
jovem, muito embora que se faz presente todas as faixas etárias. Ademais é
considerado um bairro alternativo com a arte a flor da pele e suas lojas de tendência.
Atualmente é muito frequentado pelos
lisboetas, além de outros portugueses, imigrantes e turistas que usufruem da
vida noturna nos bares, cafeterias, discotecas, e restaurantes, os quais são
badaladíssimos. Quando iniciou este último desconfinamento teve um grande fluxo
de jovens por lá e foi necessário mais algumas medidas restritivas.
Caminhando por suas ruas que tive a
honra da companhia do meu amigo João Correia, conhecido como João do Tuk, quem
me apresenta Lisboa com seus vastos conhecimentos, tive a oportunidade de
vislumbrar vários patrimônios com suas histórias, além de algumas curiosidades.
A exemplo do belo Miradouro D. Pedro de Alcântara, os reis da quarta dinastia
tinham inúmeros nomes e sobrenomes, mas D. Pedro I do Brasil fazia referência a
ele próprio somente Pedro de Alcântara.
Neste Miradouro podemos visualizar o
Mosteiro de São Vicente de Fora, o Convento da Graça, Miradouro da Senhora do
Monte, pois estamos no lado oposto e, ainda, o Castelo de São Jorge, a Sé
Catedral, a Estação do Rocio do séc. XIX, os arvoredos da Avenida da Liberdade…
Há muitos cantos e recantos tradicionais
nesta localidade, como a Rua da Rosa que é uma das mais conhecidas, pois
atravessa de uma ponta a outra do bairro, como também, existem vários arcos que
cruzam um lado a outro de uma rua ligando residências de um mesmo proprietário.
A Rua do Abarracamento de Peniche passou
ter esta denominação na altura do terremoto de 1755. O Marques de Pombal emitiu
várias ordens para manter a segurança na cidade, determinou que o Regimento de
Peniche viesse para Lisboa e eles se instalaram naquela área em barracas,
formando um acampamento. E mais, mandou construir na zona do Convento do Carmo
forcas mais altas do que o costume na época para que a população pudesse ver a
distância o que acontecia com as pessoas desordeiras.
O Convento dos Cardais é situado nas
proximidades entre o antigo Abarracamento de Peniche e a rua que residia o
Marques, deve ser um dos motivos que esta edificação não tenha sido saqueada na
época do terremoto. Em outros períodos durante invasões ocorridas em Lisboa
também não foi depredado, conservando sua decoração original.
O Tribunal Constitucional também está
situado na região, chama-se Palácio Ratton que deve o nome ao seu primeiro
proprietário, Diogo Ratton (1765-1822), este foi um dos mais destacados membros
do grupo de industriais e grandes comerciantes fomentado por Pombal. Este
Tribunal é o único do sistema judicial português que suas decisões são
definitivas e inapeláveis.
A Igreja de São Roque é um dos mais
belos patrimônios da região e uma de suas Capelas é a de São João Batista que
foi considerada entre as mais ricas da Europa. Esta foi encomendada por D. João
V em 1742 aos arquitetos Luigi Vancitelti e Nicola Salvi, executada por uma
equipe de artistas italianos, construíram em Roma e posteriormente foi
transportada para Lisboa em peças por três barcos, caso afundasse algum não
perderia tudo.
Curiosamente São Roque é um santo
francês que foi viver na Itália na região de Bergamo, onde havia frequentemente
epidemias, ele tratava as pessoas afetadas e assim, contraiu a doença. Então
ele acreditava que a melhor maneira era se isolar para não contaminar outros e
foi viver na floresta até ficar curado. A ideia de que as pessoas se afastam em
tempos de pandemia foi de São Roque e como Lisboa frequentemente havia pestes
construíram uma igreja em sua homenagem.
Mais um fato interessante, a Cervejaria
da Trindade representa o local onde era o Convento da Trindade, este era
símbolo do poderio religioso na época juntamente com o Convento do Carmo. Para
além do poder do rei as grandes instituições de Lisboa eram os dois conventos,
entretanto no terremoto de 1755 ambos foram ao chão e, naquela época quando
alguém queria dar dimensão do desastre dizia: “caiu o Carmo e a Trindade” e até
hoje os portugueses usam esta expressão.
Ruas, ruelas, travessas surpreendentes e
encantadoras…
Abril 2021
Liliana Borges
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