Prolongar a juventude é desejo de todos, desfrutar de uma velhice sadia é sabedoria de poucos.
segunda-feira, 31 de maio de 2021
sexta-feira, 28 de maio de 2021
Era estranho, esquelético, com uns tiques que incomodavam.
Levantava o olho direito franzindo o canto da boca, fungava como um
cheirador de rapé, e olhava as pessoas de través.
Diziam, os mais antigos, que foi um rapaz normal vítima de uma assombração,
não obedeceu as regras do além e foi castigado por forças ocultas, mas isso era
o que se dizia, um pouco, a medo. As pessoas tinham receio de falar em coisas
que iam para além da sua própria imaginação, factos em que as forças do além se
sobrepunham ao conhecimento das pessoas.
Dona Inácia, na sabedoria dos seus 90 anos, contava que tudo tinha a
ver com umas marcações de terras, parece que avô do Libório tinha desviado uns
marcos e, de forma indevida, tomou para si terras que não lhe pertenciam,
quando chegou a hora de se apresentar ao criador foi recambiado para desfazer o
mal que tinha feito.
Uma tarde, continua dona Inácia, estava o pobre Libório agarrado à rabiça
do arado, quando avô, qual alma penada, se lhe apresentou aparecido do nada,
com voz cavernosa lhe ordenou a troca dos marcos.
Obedeceu no medo que o tolhia e fez tudo o que lhe mandou sentindo um
tremor que o inibia. Acabada a tarefa o avô, naquela voz do além, ordenou que
enquanto ia desaparecendo não devia olhar para trás para nunca se arrepender.
Mas o terror era tanto que o pobre rapaz apenas olhou de soslaio, o que
enxergou ninguém sabe, apenas ficou como agora se vê, alheio, como se estivesse
sem estar.
Anda pela aldeia por entre as gentes como se não fizesse parte delas,
vagueia pelas ruas nos seus tiques, passando indiferente à caçoada dos rapazes,
olha algo que, possivelmente, apenas ele vê.
****
Agosto quente, ainda agora se tinha levantado a manhã e já as pessoas andam num desconforto de roupas coladas ao corpo, com uma vontade enorme de se encostarem no agradável trabalho de não fazer nada.
Mas é apenas vontade, pois o dever chama e há muito que labutar.
Todos têm que dar a sua ajuda, no sábado começam as festas em honra da
padroeira e, os filhos da terra, começam a alegrar as ruas, com as falsas
pronúncias de um francês com sotaque transmontano.
Chegam em carros que regalam a vista e dão aquele ar de prosperidade, que
por vezes, não passa de um faz de conta, num carro alugado para esconder as
dificuldades que sentem no dia-a-dia.
Nas tabernas as malgas do verde, matam a secura que o calor deixa na
garganta e, com alegre verborreia, entoam de forma ensurdecedora.
No largo da Igreja, o som dos martelos ultimavam o palanque onde iriam desfilar
todas as atracões, guardadas, para dar brilho às festividades.
Sábado, logo pela manhã, o troar dos foguetes anunciavam aos quatro cantos da
aldeia, o início de uma semana de folguedo, musica, bailes, cantares, largada
de vacas e, a culminar, a procissão que iria dar o toque religioso para os
pagadores das promessas pelas graças recebidas.
Á tarde o largo regurgitava, não havia espaço para mais ninguém, Libório
parecia alheio, mas tinha garantido um lugar na fila da frente. O olhar
distante parecia procurar algo que estava para além da imaginação, não soltava
uma palavra, não mostrava qualquer afeto, estava ali como se não estivesse.
O mestre da banda, com a batuta, deu umas pancadas na estante da pauta, os
músicos alinharam os instrumentos de forma, quase, cerimoniosa. O mestre do
alto do seu poiso, olhou os seus músicos e sentiu o nervosismo dos mais novos,
com um leve sorriso deixou a mensagem, era hora de começar.
Primeiro os violinos naquele melodioso lamento, depois os metais encheram a
praça de magia, os acordes tomaram conta dos sentidos e a emoção encheu os
ares, apoderou-se de todos e conseguiu, com o fascínio da música, passar
despercebida as limitações destes amadores.
Quando a banda silenciou algumas lágrimas bailavam nalguns olhos mas o
milagre deu-se depois.
Libório que há cinco longos anos não botava uma palavra, que passava os
dias num alheamento total, num quase autismo, saltou de repente, bateu as
palmas, olhou o mestre e gritou:
- Mais uma vez, toquem mais uma vez!
****
Hoje, os mais céticos, dizem que foi a magia da música.
Os outros, dizem que foi um milagre da santa padroeira
Maio 2021
Manuel Penteado
quarta-feira, 26 de maio de 2021
22222
Mais de 22222
Foram
ultrapassadas hoje,
dia 26 de maio,
22222 visitas ao Blog.
A ti, que de alguma forma, contribuíste para que este número fosse atingido
em tão pouco tempo,
Muito Obrigada
PONTE DE LIMA
DOMINGO NO PARQUE, Fundação Calouste Gulbenkian…
terça-feira, 25 de maio de 2021
segunda-feira, 24 de maio de 2021
PEDRO BELLO
Uma das minhas melhores fotos, feita pelo meu pai.Uma das versões foi capa da revista Flama e de muitas pagelas com orações distribuídas na Igreja de São João de Deus em Lisboa.