Ia tão apressada que se eu não fosse tão listo, o telemóvel tinha-me voado das mãos, com o encontrão.
Virei-me com vontade, nem sei bem de que, mas o sorriso e aquele ar angelical deixou-me sem coragem para refilar.
- Desculpa
tá! Tão açucarado, foi suficiente para quebrar toda a minha vontade,
apenas me saiu:
- Desculpo com uma condição, vem beber um café comigo!
Deu uma gargalhada, saracoteou aquele rabo que parecia esculpido, por um
qualquer Miguel Ângelo e desapareceu na confusão, dos embrulhos das compras de
Natal
Eu, ainda, tinha coisas a comprar, este ano, deixei para o fim algumas das prendas do Natal, é o costume, tenho que me habituar a fazer as coisas a tempo e horas.
Faltava alguma lembrança para a minha mana Alzira, uma Nitendo para o meu sobrinho André, foi o que ele me pediu, o difícil era encontrar, parece que todos os miúdos se lembraram do mesmo.
Para a minha afilhada Margarida, era fácil, um envelope um cartão e umas
notas, foi o que me pediu:
- Padrinho não me compre nada, no Natal dá-me uma nota para eu juntar para
comprar um IPad.
Pedido é pedido, vou fazer isso! Para a Alzira, gostava de uma camisola,
igual à da moça que tropeçou comigo. Era diferente, mas onde vou agora
encontrar uma camisola assim?
Estou farto, ando há duas horas num entra e sai de lojas e apenas consegui
a Nintendo, para o André, camisola nem sei por onde começar, acho que vou
desistir e ofereço um cheque brinde para ela escolher à vontade. Não gosto
desta solução mas o que hei-de fazer?
Que se passa? Meu dia de sorte! No meio de uma dúzia de sacos lobriguei a
menina do encontrão.
Que borracho, meu Deus! O Pai Natal bem podia deixar uma igual no meu
sapatinho.
Que bom, reparou em mim e brindou-me com um rasgado sorriso antes de me
dizer:
- Oi que bom que o encontro, agora aceito o tal cafezinho, preciso mesmo
descansar as pernas.
- Com muito gosto! Respondi. Vamos, é no piso de cima!
Ia à minha frente, saltitando numas botas de saltos de sete centímetros,
calças muito justas que deixavam antever uma coxas firmes e um traseiro que
fazia corar um santo.
Procuramos uma mesa vaga, largamos os embrulhos numa cadeira e repousamos o cansaço das pernas.
- Que quer para beber, ou comer para ir buscar? Perguntei
- Você vai pégar? Disse de forma açucarada. Tentei imitar, sem muito jeito:
-Vou pégar mesmo, com muito gosto!
Estava agradável a conversa, ela, Vitoriana era um autêntico furacão.
Nasceu em Porto Alegre, filha de um português e de uma brasileira, aos 8
anos foi com os pais para o Rio. Quando o pai morreu tinha, ela, 16 anos a mãe
regressou a Portugal onde voltou a casar. Ficou a viver com os avós, podia
estar com o mãe e o padrasto mas prefere estar com os avós, está mais à
vontade! Acabou o curso, de Relações Internacionais, e sonha com uma carreira
diplomática.
Nome difícil mesmo! Sou Vitoriana! Papai queria um rapaz, um Vítor, mamãe
queria menina que seria Ana, mamãe ganhou mesmo, mas acertaram os nomes e
fiquei com os dois.
- Sabe,
disse Vitoriana, não sei porque estou falando para você tudo isto!
As vezes pareço um pouco boba.
- Não, respondi, fez bem falar e eu adorei ouvir e agora quero uma ajuda
sua.
Pode ser?
- Aí parou! Depende do que quer cobrar! Respondeu com uma saudável gargalhada.
- Pouca
coisa, respondi, só quero que me ajudes a comprar, para a minha mana, uma
camisola como a tua, coisas para mulheres não tenho muito jeito.
- Só isso? Perguntou, não é demais pelo café e o docinho! Anda, vamos, eu sei onde encontrar!
Levou-me ao piso superior, seguiu o corredor até ao meio, entrou numa loja
que eu nem conhecia, mexeu no expositor e mostrou-me uma camisola quase igual á
que tinha vestida e perguntou.
-Tá bem esta? Agora é só escolher a cor!
Era mesmo o que procurava, a empregada sugeriu verde-tília, dizia que era a
cor da moda. O tamanho, eu sabia, era o 36. Paguei e pedi um embrulho para
oferta.
Enquanto a empregada tratava da embalagem, procurei a Vitoriana. Devia
estar no corredor!
Não estava, corri o centro comercial, olhei em todas as lojas, subi e
desci escadas rolantes, olhei para tudo o que era lado, nada da Vitoriana.
Não há dúvida, escafedeu-se, mesmo.
Nunca mais a vi mas, juro, sonho com ela.
Maio 2021
Manuel
Penteado
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