Explicar o que é ser do Montijo a quem não é do Montijo, não é tarefa fácil, porque isto de ser do Montijo, só percebe quem é do Montijo.
O Montijo, que já foi Ribatejo, não chega a ser Estremadura e não é, certamente,
Margem Sul. Mesmo que geograficamente o pareça.
Já se chamou Aldeia Galega e é por isso que muitos ainda chamam aos seus
habitantes de "Aldeanos".
Montijo é por muitos conhecido como dormitório de Lisboa, por ser a cidade
ligada à capital através dessa ponte chamada Vasco da Gama. Ponte essa onde os
Aldeanos comeram uma bela duma feijoada, patrocinada por um detergente, que diz
ter chegado uma embalagem para limpar aquela coisa toda.
Os Alcochetanos (de Alcochete, portanto) dizem que a ponte é
"deles", que dali é que se vê a ponte e pardais ao ninho. Mas depois
nós perguntamos-lhes pelo comboio e a coisa corre mal. Porque ser do Montijo,
também é isto, viver uma rivalidade com Alcochete que resulta numa relação de
amor-ódio, que, ainda assim, não nos impede ir lá ir beber uns copos. E
porque os Alcochetanos nunca ultrapassaram esse desgosto de não terem comboio,
mesmo que no Montijo também já não tenhamos.
Ser-se do Montijo é ter toda uma linguagem própria que mais ninguém entende. Dizer “tó”, como interjeição de espanto para tudo e mais alguma coisa e chamar de “mandongo” a tudo o que estiver sujo ou desarrumado. Como se não bastasse todo esse vocabulário próprio, ser-se do Montijo é também trocar vogais, e passar a ser-se do “Muntije”.
Porque ser-se do “Muntije” é celebrar sempre os “nóisses”. O “nóisse” Pálinhe Futre, mesmo quando diz que “vão vir charters”, um Labreca, mais conhecido por Ricardo e por ter tirado as luvas a defender penaltis no “Eure” e a Taberna dos Cabrões, porque saiu na Time Out.
Isto porque ser-se do Montijo é também comer muito bem e, sobretudo, comer
muito porco, que é também conhecido por “tó” por estas bandas. É comer iscas
nos “Cabrões”, entremeadas no Ilhéu e coiratos no “Cinco”. Quando não se come
porco, vai-se à Bella Pizza, essa pizzaria onde se fazem os jantares de turma
do secundário e onde se voltou mais tarde pelo saudosismo da bola de espelhos
no teto, da luz vermelha e do concerto do Eros Ramazoti a passar em loop numa
tela gigante. E onde a sangria é barata.
Ser-se do Montijo é
ter-se muito orgulho em ser-se do Montijo, é rir de quando o resto do mundo não
percebe o dialecto, é conseguir sempre descobrir mais uma palavra que afinal
não é portuguesa e só Montijense. É trazer-se esse resto do mundo a tentar
descobrir o que é o Montijo, o que é falar no Montijo e o que é que se come no
Montijo, sem nunca conseguir explicar o que é isto de ser-se do Montijo, um
quase mundo à parte.
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