sexta-feira, 29 de outubro de 2021

UM CAFÉ À BEIRA RIO


Com os números da pandemia a ficarem mais aceitáveis, decidi convidar a minha amiga Ana para bebermos um café numa esplanada à beira rio. Pela nossa conversa telefónica percebi que alguma coisa se passava com ela, além de ser um bom motivo para nos vermos, o que devido à pandemia já não acontecia há algum tempo.

Estava uma tarde muito agradável, sem vento e com um sol brilhante. 

Embora a Ana seja uma mulher com uma forte personalidade, por vezes também precisa de pedir conselhos, aliás como toda a gente, ouvirmos os outros dá-nos uma outra perspetiva e ajuda a encontrar soluções para problemas que nos parecem tão difíceis de superar e resolver.  

Confirmei a minha intuição, era precisamente para conversarmos acerca de uma situação que estava a decorrer no trabalho, que aqui nos encontrávamos. 

Somos amigas há já alguns anos e ela sabe que pode sempre contar com a minha opinião sincera e ajuda, mais que não seja para desabafar, o que também é muito útil, por vezes através das nossas conversas ela consegue chegar á solução para um problema que a esteja a apoquentar. Hoje não era diferente, ela queria saber a minha opinião acerca de uma situação que se estava a passar no trabalho. 

Contou-me que desconfiava que havia uma colega que estava a sofrer de assédio, mas que a vítima estava relutante em fazer uma queixa formal. Tinha medo de sofrer ainda mais represálias por parte do agressor, que era o seu chefe, ou mesmo perder o emprego. A situação tinha evoluído gradualmente com pequenas observações e piadas de mau gosto acerca do que ela tinha vestido nesse dia, ou do perfume que estava a usar. Como ela tinha fingido que nada tinha percebido, e esquivando-se sempre a uma situação de confronto, as observações do chefe tinham evoluído para outro tipo de assédio, agora era à qualidade do seu trabalho. 

A minha amiga Ana notou que a colega andava nervosa e que a qualidade do seu trabalho estava a ressentir-se de tanta pressão. Falou com a colega para tentar perceber o que se passava mas não conseguiu que ela denunciasse a situação. 

Conversámos longamente acerca do assunto e a Ana ficou com uma ideia mais clara do que fazer. Situações como aquela são muito frequentes mas isso não as torna aceitáveis ou que deixemos que elas se prolonguem sem nada fazer.

E assim o nosso café à beira rio prolongou-se até ao fantástico pôr-do-sol que se alastrava sobre o rio e Lisboa ia ficando cor de laranja. 

Foi muito bom poder estar naquela tarde com aquela mulher espetacular que não pactuava com injustiças nem se deixava intimidar. 

Maria José Santos

Outubro 2021


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